sexta-feira, 27 de maio de 2011

OXI A DROGA QUE MATA

Drogas

Oxi, a droga da morte

Mais barato, nocivo e letal que o crack, entorpecente tem invadido o País

Publicado em 21/05/2011, às 20h35

Wagner Sarmento

Uma nova praga se espalha pelo Brasil. Ainda pouco conhecido, o oxi é um crack piorado. Mais barato, bem mais viciante, muito mais mortal. Os primeiros relatos da presença da droga em território nacional remetem a 2005 e se resumem ao Acre. Este ano, no entanto, houve uma explosão do oxi pelo País, com registros de apreensões em 14 Estados – sendo três do Nordeste – e no Distrito Federal.

Enquanto o crack é resultante da mistura de cocaína, bicarbonato de sódio e às vezes amônia, a pedra de oxi é uma verdadeira bomba química, ainda mais danosa à saúde: também subproduto da folha de coca, é feita com cal virgem e querosene ou gasolina. Pode levar à morte em menos de um ano.

A presença em Pernambuco está sob suspeita. Uma análise preliminar de um carregamento de pasta-base apreendido este mês atestou a presença de querosene. No laboratório da Polícia Federal (PF), peritos analisam 165 quilos de pasta-base de cocaína obtidos na maior apreensão do composto na história de Pernambuco, ocorrida em 7 de maio.

Uma primeira perícia atestou a presença de querosene, ingrediente característico do oxi. “É grande a probabilidade de ser oxi”, garante o perito criminal federal Assis Clemente. O laudo com o resultado da análise deve sair esta semana. O Rio de Janeiro também aguarda perícia técnica especializada para confirmar se a substância apreendida é oxi.

Embora não haja registro oficial de apreensão de oxi no Estado pela PF ou pela Polícia Civil, o chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF, Carlo Marcus Cardoso, afirma que é possível que a droga já circule no Estado.

Antes de mais nada, o delegado espera que o entorpecente seja registrado pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC), em Brasília. Segundo ele, o oxi ainda não é uma droga oficial. “O INC precisa estabelecer os critérios. Já nós precisamos encarar isso com cuidado. Há muita especulação. Para a gente, não interessa se é oxi, crack, pasta-base ou o que for, e sim se é droga ilícita. A metodologia de trabalho para combatê-la será a mesma”, observa, citando o serviço de inteligência, a fiscalização nas estradas e o controle dos aeroportos. O INC prepara um estudo sobre as características do oxi.

A droga tem uma concentração maior do princípio ativo de cocaína – entre 60% e 80%, contra 10% e 40% do crack – e, o pior de tudo, usa em sua produção solventes como gasolina e querosene, mais baratos e nocivos à saúde.

Há casos em que o oxi é feito com água de bateria, cimento, acetona e soda cáustica. “É nossa maior preocupação. Quanto menor o preço, mais acessível é a droga. O traficante faz um produto mais barato, de pior qualidade, para gastar menos, produzir mais e obter mais lucro”, explica ele. A pedra de oxi pode custar de R$ 2 a R$ 5, enquanto o preço do crack varia entre R$ 5 e R$ 20.

O delegado Luiz Andrey, gestor do Departamento de Repressão ao Narcotráfico da Polícia Civil de Pernambuco, pontuou que a nova droga causa preocupação, mas manteve o discurso adotado pela PF. “A prioridade é a cocaína e seus derivados, não importa quais sejam. Agora, é lógico que, pelo fato de o oxi ser mais barato, pode atingir um público maior”, afirma.

A polícia conta com um papiloscopista e um perito criminal para realizar análise das drogas apreendidas e definir seu princípio ativo e seus componentes.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realiza um mapeamento do oxi em território nacional. O estudo está sendo liderado pelo pesquisador Francisco Bastos, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Ictic) da Fiocruz, a pedido da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), órgão vinculado ao Ministério da Justiça. A assessoria de imprensa da fundação informou que os primeiros resultados devem ser divulgados no fim deste mês.

Valéria Espíndola, também perita da PF, explica que, para a produção de cloridrato de cocaína, mais pura e mais cara, a extração da pasta-base nas folhas de coca é feita com ácido sulfúrico e, para remover as impurezas, há um tratamento com ácido clorídrico.

Para fazer o oxi, a extração se dá com querosene ou gasolina e não há processo de refinamento, mesmo caso do crack. A pedra do oxi resulta do aquecimento de uma mistura da cocaína não purificada com cal virgem e algum combustível, o que retira a acidez da pasta-base. “É uma droga cheia de resíduos, que utiliza insumos venenosos e mata muito mais rápido que o próprio crack, que já é um produto de péssima qualidade”, pondera Valéria.

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